sexta-feira, 28 de maio de 2010

O fluído e o sólido, o efêmero e o permanente, o fugaz e o estável


[ Identidade de nós mesmos Win Wenders ]


Você mora onde mora faz o seu trabalho. Você fala o que fala, come o que você come. Veste as roupas que veste, olha para as imagens que vê. Você vive como vive como pode viver. Você é quem você é. “Identidade”...de uma pessoa, de uma coisa, de um lugar. “Identidade”. Só a palavra me dá calafrios. Ela lembra calma, conforto, satisfação. O que é identidade? Conhecer o seu lugar? Conhecer o seu valor? Saber quem você é? Como reconhecer a identidade? Criamos uma imagem de nós mesmos e estamos tentando nos parecer com essa imagem. É isso que chamamos de identidade? A reconciliação entre a imagem que criamos de nós mesmos e nós mesmos? Mas quem seria esse “nós mesmos”? Nós moramos nas cidades, as cidades moram em nós, o tempo passa. Mudamos de uma cidade para outra, de um país para outro, trocamos de idioma, trocamos de hábito, trocamos de opinião, trocamos de roupa, trocamos tudo. Tudo muda rápido. Sobretudo as imagens. Elas mudam cada vez mais rápidas e se multiplicam num ritmo infernal, desde a explosão que desencadeou as imagens eletrônicas, as mesmas imagens que agora estão substituindo a fotografia. Podemos confiar na eletrônica? No tempo da pintura, tudo era simples. O original era único, e toda cópia era uma cópia, uma falsificação. Com a fotografia e o cinema, a coisa começou a se complicar. Na fotografia o filme é o original, o resto é cópia. A moda sempre está morta. Identidade e moda seriam coisas contraditórias?


É assim que Win Wender começa o documentário Identidade de Nós Mesmos. Jogando na cara no espectador vários sentimentos e questionamentos. Afirmando não estar nem aí pra moda e mostrando o processo criativo de um dos mestres da alta-costura Yohji Yamamoto. Wender conduz o filme descobrindo a moda, a sua nova câmera e o estilista de maneira simultânea, e não tem medo de relatar que quando não se domina o assunto, as primeiras perguntas não são muito profundas. Yamamoto, por sua vez, relata que o processo criativo inicia com o tecido, com o toque, para senti-lo. Depois parte para forma. Ele deixa claro que não existe uma regra, mas que prefere sentir antes de criar. E ainda, que nesse momento é necessário pensar em duas línguas diferentes ao mesmo tempo: o fluído e o sólido, o efêmero e o permanente, o fugaz e o estável.


A trilha sonora inquieta serve de cortina para as várias linguagens que o trabalho de Yamamoto passa. Seja pela cor ou pela formas assimétricas. O preto é mais que uma cor para o estilista. Representa um mix de emoções, que mudam constantemente. O preto é a conclusão de todas as cores. “Usando o preto assim (em muitas peças) dá uma sensação histérica”, diz o estilista.


Wenders traça um paralelo entre as cidades e a moda, percebendo uma identidade, falsa ou não, de quem vive em determinados locais. A tecnologia usada como “eletrônico”, também, está em cada cena no doc. Em um determinado momento, o diretor começa a perceber pontos em comum com Yamamoto, tornando mais próximo e atraente todo aquele universo. Isso é revelado folheando o livro People of the 20th Century, de August Sender, onde as fotos das pessoas são reveladoras. Segundo Yamamoto, através das vestimentas é possível revelar as profissões das pessoas daquela época.


Um documentário maravilhoso, inquieto, revelador e profundo. Muitas questões são levantadas. Paradigmas quebrados. A quietude interna do oriental transcende a tela. O profissional compenetrado e preocupado com todo o processo que envolve a sua roupa é mostrado de forma simples que deixa uma verdadeira vontade de fazer, de fazer o que se ama. Yamamoto levanta essas questões de identidade, pois por muito tempo negou a afirmação que representava a moda japonesa. Wenders contou a história do mito, da paixão pelo trabalho, da identificação através do que se acredita da influência de grandes cidades, da cultura e do “eletrônico”. Formidável e instigante.



Foto do livro People of the 20th Century, de August Sender
Imagem de um cigano, essa é a preferida de Yamamoto.
O olhar do homem chama a atenção e a mão no bolso.



4 comentários:

  1. Obrigada querida!! Vale muito esse doc.

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  2. Oi! Eu tava no Barra no quinta, e alguém daqui conversou cmg e tirou uma foto minha, ao q eu lembre hahaha, só achei o adesivinho hoje, mas tô cumprindo minha promessa e estou aqui! Bjs e sucesso ao blog.

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  3. Se quiserem me achar, Rogério Potter.

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