terça-feira, 16 de fevereiro de 2010
Com que roupa... eu vou? Pro samba que você me convidou
A moda desfilou na avenida do samba na segunda noite de folia, no Rio de Janeiro. “Com que roupa... eu vou? Pro samba que você me convidou”, foi enredo da Porto da Pedra que mostrou como é possível contar a história da humanidade de diversas maneiras. A escola usou a arte e a moda caminhando lado a lado para mostrar as características de cada época e assim compreender através da maneira do homem se vestir, como ele se comportou social, política e economicamente. Foi uma viagem conduzida pela história e suas épocas marcantes, além disso, personalidades e a maneira de pensar vão influir diretamente nas escolhas estéticas.
A comissão de frente “Brincando de Bonecas” trouxe para a avenida bailarinos que davam vida a crianças e bonecas sem roupa. Uma casa da Barbie trazia as bonecas. Esse, na visão do carnavalesco, é o primeiro contato da criança com a moda, quando ela tem que decidir o que a boneca vai vestir.
O carro abre alas “Pede Passagem” veio como um portal que leva à idade da pedra. Foi quando, então, o homem sentiu necessidade de se vestir e usou, para isso, peles de animais. Logo atrás do carro veio à ala Pedrok, que fez alusão a família pré-histórica e mostra como referência “Os Flinstones” e sua cidade. No carro seguinte estava o tigre, símbolo da Porto da Pedra, com boné e pircing trazendo a idéia de contemporâneo.
Logo após veio a ala Egito inspirada na antológica Cleópatra, que por curiosidade, foi à primeira mulher a se depilar, segundo relatos históricos. O Egito, como não podia ser diferente, traz para a passarela do samba muito dourado representando o ouro e a riqueza.
Seguido pela ala “Antiguidade Clássica” e “Bizantino” o luxo nas vestimentas foi o ponto alto. O carro gótico com uma catedral mostra a Era da Verticalização, quanto mais alto mais próximo de Deus. A roupa escurece e ganha tons sóbrios. A religiosidade aflora. A arte era inspirada pela fé e a roupa segue o mesmo caminho. A silhueta não era o mais importante, e sim a quantidade de tecido que a cobria. A distinção social vai ficar muito acentuada neste período, pois quanto mais tecido, maior o poder. Os ornamentos e as jóias vão começar a ganhar destaque.
No renascer do homem nasce a moda.
A bateria de Luiz XIV mostrou toda a extravagância que foi a marca desse rei francês. As fantasias muito elaboradas marcam a representação do Renascimento, as mudanças de época são marcadas claramente com a maneira de vestir. As roupas masculinas se sobrepõem às femininas, ganhando ares de fantasia, com as silhuetas mais amplas. Perucas, rendas, fitas, salto alto, plumas. E as mulheres ficam para trás.
As baianas de Rainha Elizabeth I retrataram a nobreza de uma figura muito forte e que sofreu muito preconceito. Elizabeth foi uma das maiores rainhas da história, na sua época os alfaiates começam a ganhar importância. Para fechar essa época o carro “Renascimento” mostrou o quarto da rainha, as roupas muito grandes para demarcar o seu poder. Essa alegoria tinha vestidos da época em manequins estáticos. Um luxo!
A ruptura do renascimento para o Barroco veio caracterizado pelo exagero. A alegoria que representou essa época foi “Castelo de Versales”, com muita água. As paredes do carro foram revestidas com seis mil páginas de revistas de moda.
As artes seguem este mesmo caminho caracterizado pela monumentalidade das dimensões, opulência das formas e excesso de ornamentação. Isso fica em evidência na maneira de se vestir, as pessoas pareciam bonecas de porcelanas. Muito pó de arroz, ruge e grandes perucas.
Assim, mais uma transformação vai ficando evidente, o homem outrora exagerado e mais marcante que a mulher, começa a usar a simplicidade a seu favor. Eles vão ficando mais esbeltos no vestir deixando de lado a exuberância e entregaram-na as mulheres, que trouxeram para si o direito as transformações, com anáguas imensas e cinturas finíssimas.
O homem do rococó é um cortesão, amante da boa vida e da natureza. As mulheres por sua vez ficam muito mais requintadas, as roupas ficam maiores para os lados, é a vez de Maria Antonieta, a mulher que fazia os homens perder a cabeça. Com ela o tecido floral ganha força e os móveis grandes.
O período napoleônico com a França sofrendo tensão marca o Neo Clássico. Assim, a época pede uma roupa mais leve, as caudas desaparecem, a cintura fica marcada e é aí que surgem os primeiros figurinos de moda, e a influência grega vai determinar não somente a arte, como a moda.
Um pulo bem grande é dado na história e caímos no Pop arte. Mudança de século, de arte, de combinações. A mulher fica mais sinuosa, as linhas são mais leves, chapéus, laços e flores. O mundo fica mais rápido e isto vai influenciar o vestir. Começam a surgir os primeiros estilistas e a cada dia que passa nasce mais e melhores. O mundo avança novos movimentos vem em contraponto a esta nova arte, mais moderna, mais geométrica.
A ala "Quero ser Naomi" – homenageando a modelo Naomi Campbell – veio pra avenida com um casaco verde remetendo ao de Yves Saint Laurent, também reverenciado. A alegoria “Coco Chanel” apresentou bustos de mulheres em frascos de perfumes, remetendo aos de Jean Paul Gaultier. Marília Pêra representou Mademoiselle Coco Chanel, que deixou de criar moda para criar estilo.
Pra fechar o desfile a alegoria "Sapucaí Fashion Day", remetia as festas super concorridas do Rio de janeiro organizadas pela estilista Lenny Niemeyer, e a um grande desfile pra lembrar o Fashion Rio.
A escola estava linda, marcante e contou a história da moda. Deixou claro que a moda está ligada incondicionalmente a arte e a mudança é uma constante. Um vai e vem de tendências que acompanham épocas e suas prioridades. Muito ainda tinha que se falar. O final do desfile foi contagiante e levantou a Sapucaí. Luxo, extravagância, simplicidade e contemporâneo.
Enredo: Com que roupa... Eu vou? Pro samba que você me convidou
Carnavalesco: Paulo Menezes
Autores do Samba: Bira, Porkinho e Heitor Costa
Intérprete: Luizinho Andanças
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